Ensinar Design Thinking na escola pode ajudar a preparar alunos para o futuro.
A despeito de com quem você conversa sobre educação, a opinião unânime é de que a escola precisa se reinventar para adequar-se às demandas do mundo atual. Pesquisadores afirmam que a quarta revolução industrial, impulsionada por tecnologias como a inteligência artificial, o aprendizado de máquinas e a fabricação digital, irá mudar radicalmente o panorama das competências necessárias para ter sucesso no mercado de trabalho nos próximos anos.
Com o mundo mudando cada vez mais rapidamente, habilidades como criatividade, inovação, pensamento crítico, comunicação, colaboração, aprender a aprender e resolução de problemas passam a ser vistas como habilidades de suma importância para se ter sucesso na economia de hoje.
Segundo o relatório The Future of Jobs publicado em 2016 pelo Fórum Econômico (1) Mundial, as 3 habilidades mais essenciais para nossa economia em 2020 serão, em primeiro lugar, a resolução de problemas complexos, em segundo lugar, o pensamento crítico e, em terceiro lugar, a criatividade. Formuladores de políticas públicas, teóricos e profissionais da educação referem-se ao ensino das “Habilidades do Século 21” como um caminho seguro para melhor preparar nossos alunos para o futuro.
Acontece que ensinar essas habilidades ainda é um grande desafio. De acordo com o relatório The Nature of Problem Solving – Using Research to Inspire 21st Century Learning (2) publicado em 2017 pela OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development (3), existe pouca pesquisa sobre algumas dessas habilidades do século 21, sendo algumas difíceis de definir ou especificar para que sejam mensuradas. O relatório afirma também que, em muitos casos, é ainda mais difícil achar métodos para desenvolvê-las dentro da sala de aula.
Como os métodos de Design podem ajudar?
Muitas pessoas quando pensam sobre Design pensam logo em coisas tangíveis, como um carro diferente, uma roupa estilosa ou produtos bem desenhados. Mas assim como o mundo se tornou mais complexo e mais produtos e serviços passaram a existir, Design também se ampliou. Hoje designers ajudam a projetar aplicativos e até mesmo a redesenhar a experiência de sacar dinheiro em Banco.
O que une o trabalho dos diferentes perfis de designers é o aspecto de resolverem problemas que fazem o mundo ficar melhor para as pessoas e o fato de utilizarem para isso uma série de métodos e mentalidades de trabalho, hoje popularizados pelo termo Design Thinking.
Minha experiência como Designer de Produtos e como Professor de cursos de graduação e pós-graduação em Design faz-me acreditar que os métodos e as ferramentas de design podem ajudar professores escolares a desenvolver em seus alunos muitas das habilidades do século 21 e, ainda por cima, despertar neles a sensação e a motivação no sentido de que eles podem fazer a diferença no mundo.
Designers aprendem que precisam aprender sempre
A maioria dos problemas de design não tem uma resposta clara e imediata. Para gerar a solução ideal para um problema, o designer usa de empatia para interagir com os envolvidos em um problema, de maneira a extrair deles suas necessidades e motivações antes de produzir qualquer ideia de solução. Pegando o exemplo de um aparelho celular, isso envolveria desde o cliente do produto ao fabricante, o dono da marca até o vendedor da loja que vende os celulares. No início de um projeto de design, a natureza do trabalho do designer é investigativa e o desafio do designer é construir uma visão clara e própria sobre o problema e a cada novo projeto ele precisa aprender a aprender de novo. Só aí já foram utilizadas uma série das habilidades do século 21, comunicação, pensamento crítico, aprender a aprender, e nós nem chegamos a parte criativa de um projeto.
A criatividade do designer está em conectar o saber e o fazer
A ideia de que designers são criativos por natureza é uma ideia estereotipada e está longe de representar a forma com que designers geram soluções para problemas. Designers estudam campos do conhecimento análogos aos problemas e aprendem a utilizar técnicas para conectar conceitos aparentemente díspares, de modo a gerar ideias inovadoras.
Finalmente, designers usam técnicas específicas para experimentar e testar a adequação de suas ideias à realidade das pessoas envolvidas. Através da geração de desenhos, storyboards, encenações, construção de protótipos e a constante apresentação destes para avaliação dos envolvidos no problema, o designer é capaz de validar suas ideias e integrar
novos conhecimentos às suas soluções.
Como é possível observar, designers exercitam sua criatividade de maneira bastante estruturada e sistemática, o que pode iluminar o caminho de educadores interessados em novas formas de ensinar criatividade aos seus alunos.
Pensar como um designer: uma habilidade do futuro
Com uma sociedade que está mudando cada vez mais rápido, precisamos ser criativos ao preparar jovens para os desafios do futuro. Design Thinking apresenta para o mundo a maneira com que designers pensam e resolvem problemas. Os métodos, ferramentas e as habilidades promovidas pelo Design Thinking exercitam abordagens importantes para o século 21 e podem ser ensinados, como é feito todos os dias nos cursos de formação de designers. Uma vez adaptado às necessidades e aos requisitos do ambiente escolar, o Design Thinking pode oferecer um processo estruturado para alunos desenvolverem habilidades importantíssimas e adquirirem a confiança necessária para solucionar problemas e ter sucesso no futuro.
E você? também concorda que design deveria ser ensinado na escola? E o que você faria para levar o pensamento de design para dentro da sala de aula? Deixe sua opinião nos comentários abaixo.
Este artigo foi publicado originalmente na Revista Inoveduc – Abril de 2017
Referências
(1) Csapó, B and J. Funke (eds.) (2017), The Nature of Problem Solving: Using Research to Inspire 21st Century Learning, OECD Publishing, Paris. http://dx.doi.org/10.1787/9789264273955-en
(2) World Economic Forum (2016), The Future of Jobs Report – Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution. http://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs.pdf
último acesso em 19/04/2017
(3) Organismo que elabora a cada 3 anos o programa de avaliação da educação PISA